O que é a doença renal crónica?
A doença renal crónica caracteriza-se por uma lesão, irreversível, dos rins. A lesão pode ocorrer ao nível dos pequenos filtros que constituem o rim e pode levar à perda de componentes importantes do nosso organismo, nomeadamente as proteínas.
Tal como o nome indica, uma vez instalada, a doença renal crónica não tem cura e estará presente para toda a vida do doente.
Quais os sintomas da doença?
Em fases iniciais da doença podem não existir sintomas, uma vez que os rins são capazes de se adaptar a alterações, durante longos períodos.
Contudo, os principais sintomas da existência de doença renal crónica são:
- pressão arterial elevada: sobretudo em pessoas jovens (< 45 anos) em que não é habitual, pode ser um sinal de alerta e implica sempre descartar a presença de doença renal
- alterações da coloração da urina:
- urina com cor coca-cola / rosada pode indicar a presença de sangue na urina
- urina espumosa pode estar associada à presença de proteínas
Ambas as alterações devem motivar a realização de uma análise de urina.
Ao contrário do que se pensa, a dor não é habitual na doença renal, e está frequentemente associada à presença de pedras nos rins (dor em cólica) ou a infeção urinária.
Como se faz o diagnóstico da doença renal crónica?
O diagnóstico é feito com recurso a duas análises simples:
- ao sangue para medição de creatinina
- à urina para medição de proteínas (albumina)
Os resultados devem sempre ser confirmados numa segunda colheita, 3 meses após as primeiras análises. Com estes resultados, o profissional de saúde é capaz de avaliar se tem doença renal crónica.
A ecografia aos rins é também um exame útil para identificar alterações da estrutura deste órgão.
É possível prevenir a doença renal crónica?
É possível prevenir a doença renal crónica através da adoção de um estilo de vida saudável. Para isso deve:
- manter a hidratação com ingestão hídrica adequada
- ingerir alimentos saudáveis evitando alimentos processados, açúcar e gorduras, e preferindo uma alimentação mais à base vegetal
- evitar adicionar sal aos cozinhados
- manter atividade física regular ou praticar desporto
- não fumar nem ingerir bebidas alcoólicas
- não usar drogas ou produtos de ervanária de origem desconhecida
- não tomar medicamentos que não sejam prescritos pelo médico
Por outro lado, se é diabético e/ou hipertenso é fundamental fazer um bom controlo dos valores de glicose no sangue e de pressão arterial.
Quais os estádios da doença renal crónica?
O bom funcionamento do rim é quantificado pela taxa de filtração glomerular (TFGe), que numa pessoa jovem e saudável é superior a 90 ml/min/1.73m2. A partir do momento em que a taxa é inferior a 15 ml/min/1.73m2 o funcionamento do rim está altamente comprometido e poderá ser necessário fazer a preparação para considerar começar uma técnica que substitua as funções do rim.
A função renal pode ser classificada em estádios, dependendo da TFGe (avalia como os rins estão a filtrar os resíduos tóxicos do sangue e é considerada a melhor medida global da função renal, ajudando a determinar se existe alguma lesão renal):
- Estádio 1: Taxa de Filtração Glomerular Estimada (TFGe) normal (valor igual ou superior a 90 ml/min/1,73m2)
- Estádio 2: Diminuição ligeira da Taxa de Filtração Glomerular Estimada (TFGe), com valor entre 60–89 ml/min/1,73m2
Nos estádios 1 e 2, a maioria das pessoas não têm sintomas da doença renal crónica e por isso, só se considera doença renal crónica se tiver albumina na urina, sangue na urina, anomalia patológica ou anomalia estrutural. No entanto, existe maior risco de desidratação e uma maior sensibilidade aos medicamentos
- Estádio 3a: Diminuição ligeira-moderada da Taxa de Filtração Glomerular Estimada (TFGe), com valor entre 45–59 ml/min/1,73m2
- Estádio 3b: Diminuição moderada-grave da Taxa de Filtração Glomerular Estimada (TFGe), com valor entre 30–44 ml/min/1,73m2
- Estádio 4: Diminuição grave da Taxa de Filtração Glomerular Estimada TFGe, com valor entre 15–29 ml/min/1,73m2
É mais comum a identificação da doença renal nos estádios 3 e 4, devido ao aumento de resíduos tóxicos (ureia e creatinina) no sangue. Poderá começar a sentir-se indisposto e a notar alterações no número de vezes que urina ao longo do dia. À medida que a função renal diminui, é frequente o aumento da pressão arterial. Poderão começar a surgir alguns sinais de doença óssea e anemia.
- Estádio 5: a doença é considerada em fase avançada e/ou terminal, com Taxa de Filtração Glomerular Estimada (TFGe) com valor inferior a 15 ml/min/1,73m2
Poderá haver alterações na quantidade de urina expelida. Quase sempre existe hipertensão arterial. A quantidade de proteínas na urina pode estar aumentada, assim como os níveis de creatinina e de potássio no sangue. Terá mais probabilidades de se sentir indisposto e poderá ter outras complicações da doença renal, tal como anemia (hemoglobina baixa) e acidose (diminuição dos valores de bicarbonato no sangue). Mesmo com os melhores cuidados nos estádios anteriores, a doença renal pode conduzir à doença renal terminal, que implica a necessidade de fazer diálise ou realizar um transplante renal ou, em casos especiais, considerar tratamento conservador sem diálise. Informe-se com o seu médico e faça a opção que melhor se lhe ajusta.
Tendo em conta que cada doente é um caso único, as descrições servem como um guia genérico e podem não se aplicar a todas as pessoas. Alguns indivíduos chegam à insuficiência renal terminal (estádio 5) sem qualquer sintoma, enquanto outros doentes podem começar a sentir sintomas nas fases mais precoces da doença renal.
Fonte: Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN)