O cancro afeta a sexualidade do doente?
Sim. Dado que a sexualidade do indivíduo envolve componentes mentais, emocionais e físicas, que determinam a forma como a pessoa vê e sente o seu corpo e, logo, como encara a sua intimidade.
Quais as principais dúvidas referidas pelos doentes?
Existem questões decorrentes do cancro e/ou dos seus tratamentos que podem ter um impacto negativo na função sexual e intimidade do doente, nomeadamente:
- a insegurança em relação ao corpo alterado
- o cansaço
- a disfunção eréctil
- a falta de lubrificação vaginal
- a diminuição da líbido, entre outros…
Apenas os cancros dos órgãos genitais afetam a sexualidade?
Não. Todas as situações que impliquem alterações corporais ou que tenham efeito nas hormonas corporais, podem afetar o sentido pessoal de integridade física e a função sexual.
Por outro lado, o diagnóstico de cancro por si só pode ter um impacto negativo a nível psicológico que afeta, muitas vezes, a sexualidade da pessoa com cancro.
Quais as principais preocupações das pessoas com cancro em relação à sexualidade?
Algumas preocupações frequentemente vividas por pessoas com cancro são:
- medo de sintomas físicos, como por exemplo dor aquando da relação sexual
- diminuição da líbido
- vergonha
- receio de deixarem de ser atraentes para o parceiro
- ansiedade acerca do seu desempenho sexual
- que o parceiro tenha medo de contrair a doença (o que nunca poderia acontecer porque o cancro não é uma doença sexualmente transmissível)
- afetação da relação global com o parceiro
Como se podem ultrapassar estas preocupações?
Os profissionais de saúde concordam que uma comunicação aberta com a equipa de oncologia e com o parceiro sexual é vital para melhorar a sexualidade de uma pessoa depois do diagnóstico de cancro e dos tratamentos associados.
Existem também recursos que ajudam a disfarçar as marcas físicas, incluindo a utilização de cosméticos (maquilhagem), colocação de prótese e a cirurgia reconstrutiva.
Para além disso, pode ser importante pedir ajuda para um acompanhamento psicológico, sendo que já muitas instituições de saúde têm disponíveis consultas de Oncosexologia, muito importantes na orientação de doentes oncológicos com queixas sexuais.
É possível os doentes com cancro retomarem a sua atividade sexual?
É normal que pessoas com alterações físicas em relação ao seu habitual, com consequente baixa autoestima, e/ou psicológicas decorrentes da experiência do cancro, possam sentir receio ou ansiedade em (re)iniciar a atividade sexual.
Principalmente, porque vivemos numa sociedade que exerce uma enorme pressão estética com padrões de beleza, e por isso, os sentimentos acerca da sexualidade variam de indivíduo para indivíduo por muitos fatores, incluindo cultura, idade, estado civil, personalidade, meio ambiente…
A infertilidade é uma complicação do tratamento do cancro?
A infertilidade pode ser uma consequência dos tratamentos para o cancro. Ao destruir as células cancerígenas, alguns tratamentos podem afetar também células saudáveis de outros órgãos, como os ovários (na mulher) e os testículos (no homem), bem como alguns tecidos endócrinos, afetando, assim, a capacidade reprodutora duma forma temporária ou permanente.
Esta complicação também afeta as crianças?
Esta complicação constitui uma preocupação também nas crianças, uma vez que esses órgãos/tecidos exercem um papel fundamental no crescimento e desenvolvimento do corpo e na estimulação da puberdade.
A partir da adolescência, as lesões nos órgãos reprodutivos podem levar a problemas de fertilidade: no homem, podem causar uma diminuição do número de espermatozoides e/ou diminuição da mobilidade dos mesmos; na mulher, podem causar danos nos ovócitos e nos folículos, alterar o ciclo menstrual ou até mesmo levar a uma menopausa precoce.
É possível preservar a fertilidade?
As decisões acerca de como tentar preservar a fertilidade são tomadas tendo em consideração:
- a idade
- o sexo
- a maturação física e sexual do doente
- a vontade do doente
Os avanços médicos recentes no campo da oncologia e da endocrinologia reprodutiva tornaram possível, a muitas pessoas com cancro, preservar a fertilidade, havendo atualmente várias estratégias possíveis. Converse com a equipa clínica que o está a orientar sobre a melhor opção a adotar no seu caso.