O que é a obesidade?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é uma doença multifatorial complexa, definida por uma acumulação de gordura excessiva. Está associada a um risco acrescido de doenças não transmissíveis, incluindo as doenças cardiovasculares, alguns tipos de cancro, a diabetes, doenças musculoesqueléticas ou doenças respiratórias crónicas.
O excesso de peso e a obesidade afetam cerca de 50% dos adultos e uma em cada três crianças vive com excesso de peso ou obesidade.
A gravidade da doença é igual para adultos e crianças?
Sim, em termos de consequências a obesidade nos adultos e nas crianças são ambas graves. Porém, uma criança com obesidade pode apresentar as consequências negativas mais cedo e prolongar-se durante muito mais tempo, já em idade adulta. As crianças têm também maior probabilidade de permanecer obesas na vida adulta.
A obesidade infantil atinge já uma dimensão tão avassaladora, que a Organização Mundial da Saúde classificou o problema como um dos mais sérios desafios de saúde pública do século XXI.
Quais são as principais causas da obesidade infantil?
Genericamente, a obesidade é a acumulação excessiva de gordura que resulta de uma quantidade de calorias ingeridas superior às calorias gastas. Porém, a causa da doença é multifatorial, e pode ter causas:
- genéticas (parecem estar associadas a 40-85% dos casos)
- ambientais
- endócrinas
- entre outras, como consumo elevado fast-food e bebidas ricas em açúcar, menos exercício físico, tempos de sono diminutos, excesso ecrã, medicação, etc.
Assim, alguns fatores potencialmente modificáveis associados à obesidade são:
- alimentação desadequada
- aumento do sedentarismo e falta de atividade física
- dormir pouco ou ter horários de sono irregulares
- consumo de bebidas que contêm açucares e de doses excessivas de comida processada
- tempo excessivo de ecrã: televisão/telemóvel/tablet
Como é feito o diagnóstico?
Para se perceber que existe excesso de peso ou obesidade é necessário avaliar o Índice de Massa Corporal (IMC) que compara o peso com a altura. O IMC é comparado com as referências para crianças com a mesma idade e sexo. Para isso, são utilizadas tabelas (raparigas e rapazes) apropriadas para a idade e sexo da criança. O Índice de Massa Corporal é obtido dividindo o peso pelo quadrado da estatura (IMC = Peso (Kg) / Altura2 (m)).
Por exemplo, a Laura tem 5 anos, pesa 21 quilos e mede 1,08 metros. Neste caso, o seu Índice de Massa Corporal é de 18. Consultando as tabelas de percentis de IMC (abaixo) para o sexo feminino aos 5 anos, a Laura está entre o percentil 85 e 97, logo, com excesso de peso para a sua idade.
Existem diferentes tipos de obesidade infantil?
Sim. Conforme o peso na criança, classificado em percentis, utilizando tabelas para o efeito, podemos considerar que existe:
- baixo peso: IMC <Percentil 5 para a idade e sexo
- peso normal: IMC entre Percentil 5 e Percentil 85 para a idade e sexo
- excesso de peso: IMC acima Percentil 85 até Percentil 95 para a idade e sexo
- obesidade: IMC maior que Percentil 95 para a idade e sexo
- obesidade grave: (classe II ou III): IMC >=35Kg/m2
Quais as consequências da obesidade infantil?
Entre as principais consequências da obesidade infantil, a curto e longo prazo, podemos referir o desenvolvimento de diferentes doenças:
- doenças cardiovasculares, como a hipertensão, presença de níveis elevados de gorduras no sangue (dislipidemia) ou formação de placas de gordura nas artérias (doença aterosclerótica) prematura
- doenças respiratórias, como asma e apneia obstrutiva do sono
- doenças ortopédicas, como problemas articulares ou deformidades dos joelhos
- disfunções endócrinas, como diabetes, síndrome do ovário poliquístico ou excesso de hormonas masculinas (hiperandrogenismo)
- doença do fígado gordo não-alcoólica (esteatose hepática não-alcoólica), devido à acumulação de gordura
- alterações dermatológicas como estrias ou furúnculos
- obesidade mórbida, quando adultos
Para além do impacto negativo na saúde já referido, a obesidade é muitas vezes fator de desenvolvimento de problemas psicossociais, como o bullying, baixa autoestima, ansiedade, isolamento social, depressão ou distúrbios alimentares.
É possível prevenir este tipo de obesidade?
De uma forma geral, sim. A prevenção da obesidade infantil é, em grande parte, responsabilidade dos pais, sendo urgente contrariar esta tendência e ensinar e informar as crianças para a adoção de estilos de vida mais saudáveis desde a infância.
A aposta deve começar com uma alimentação saudável e equilibrada e na prática de exercício físico, mas existem outras medidas para prevenir a obesidade infantil:
- não usar a comida como prémio ou castigo
- estabelecer horários regulares para as refeições, que devem ser feitas com calma
- oferecer porções pequenas e não obrigar a criança a comer
- consumir sopa no início das refeições principais
- guardar os doces e bebidas açucaradas para dias especiais
- oferecer às crianças uma garrafa reutilizável ou instituir o momento do copo de água em casa
- evitar o “lixo alimentar”, em particular os snacks hipercalóricos, ricos em sal, açúcar e gordura- a forma mais fácil é evitar a sua compra e substituir por snacks saudáveis
- evitar jejuns prolongados
- encorajar a criança a experimentar novos alimentos como frutas ou legumes
- fazer do pequeno-almoço uma refeição obrigatória
- promover atividade ao ar livre e limite o tempo a jogar, ver televisão ou utilizar o telemóvel
- estimular a criança a praticar exercício físico, como jogar futebol ou andar de bicicleta
Existe tratamento para a obesidade infantil?
A prevenção é a melhor forma de evitar todos os problemas causados pela obesidade, por isso mudar o estilo de vida é fundamental para tratar a doença.
Assim, as crianças com excesso de peso e obesidade devem, em primeiro lugar, ser avaliadas pelo médico assistente e, caso seja necessário, adotar medidas de reeducação alimentar e prática de exercício físico.
Pode estar indicado a realização de análises, ou outros exames adicionais, para esclarecimento das causas ou sequelas da obesidade.
Em alguns casos, podem ser adotadas soluções com a toma de medicamentos e/ou cirúrgicas, dependendo do grau e riscos da obesidade.
Em Portugal existe algum programa de prevenção da obesidade infantil?
Sim. O Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), da Direção-Geral da Saúde, é considerado um programa nacional de saúde prioritário desde 2012 que pretende contribuir para redução dos fatores de risco relacionados com as doenças crónicas não transmissíveis, em particular a obesidade infantil.
Segundo este programa, “um consumo alimentar adequado e a consequente melhoria do estado nutricional dos cidadãos tem um impacto direto na prevenção e controlo das doenças mais prevalentes a nível nacional”.
Fonte: Direção-Geral da Saúde (DGS)